segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cavaco Silva e o BPN - I


No início de 1985, Mota Pinto, Vice-Primeiro-Ministro do governo do Bloco Central (1983-85), chefiado por Mário Soares e presidente do PSD, pede a demissão destes cargos, constrangendo a convocação de um Congresso Nacional do partido na Figueira da Foz.
Após a sua morte inesperada, o congresso parecia disputar-se entre João Salgueiro e Rui Machete. Mas é Cavaco Silva quem, surpreendentemente, alcança a liderança do partido.

Não tendo as negociações com o PS chegado a bom termo, o governo de coligação caiu e o Presidente da República Ramalho Eanes dissolveu o parlamento e convocou eleições antecipadas. A recente intervenção do FMI havia reequilibrado as finanças públicas, mas a austeridade deixara má recordação na memória dos portugueses, de modo que o PSD logrou obter 29,8% dos votos, o seu melhor resultado até então. Cavaco Silva vai chefiar um governo minoritário.

Determinado em fazer reformas estruturais na administração pública e na orientação económica do país, encontrou oposição firme na Assembleia da República. Em Abril de 1987, o PRD de Ramalho Eanes ganha uma moção de censura, aprovada com os votos do PS e da APU. Como consequência o Governo cai e o novo Presidente da República, Mário Soares, dissolve o parlamento e convoca eleições. No entanto, é Cavaco Silva quem consegue atrair o eleitorado do PRD e obter uma maioria absoluta, que havia de repetir em 1991.

Nos oito anos que se seguiram os seus governos fizeram a reforma fiscal que introduziu o IRS e o IRC, privatizaram os bancos e as empresas públicas nacionalizadas em Março de 1975, abriram a televisão à iniciativa privada, reformaram as leis laborais e agrárias, bem como as carreiras da administração pública, tendo promulgado os estatutos das diferentes carreiras docentes.
Graças aos fundos da CEE, o país conheceu um crescimento económico apreciável. Iniciaram-se grandes projectos: a construção de auto-estradas e da Ponte Vasco da Gama, a introdução do caminho ferroviário na Ponte 25 de Abril e a organização da Expo 98. Impulsionou-se a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

No entanto, esses fundos comunitários também foram usados para destruir as actividades agrícolas e industriais (excepto construção civil) e para abater a frota pesqueira, condenando o país à importação da maior parte dos bens consumidos, desde os produtos alimentares aos equipamentos domésticos e industriais.
Com a destruição do sector produtivo, a actividade económica abranda, a contestação social aumenta e começa a evidenciar-se o carácter arrogante de Cavaco Silva. Todos os que criticavam as suas políticas eram chamados “forças de bloqueio”. Considerava como bloqueadores Mário Soares, que através das Presidências Abertas dava ênfase à contestação social que alastrava pelo país, e Sousa Franco, presidente do Tribunal de Contas, que várias vezes reprovou as contas enviadas pelo Governo.

Apercebendo-se da sua quebra de popularidade e decidido a continuar a carreira politica, afasta-se da liderança do PSD que perde as eleições legislativas de 1995 para o PS. Então, anuncia uma candidatura à Presidência da República mas é derrotado por Jorge Sampaio (46,09% contra 53,91% dos votos).

Regressa ao Banco de Portugal e à docência universitária mantendo, porém, uma participação política através de colóquios e artigos na imprensa escrita.
Em 2005 surgem várias sondagens de opinião que lhe dão a vitória nas eleições presidenciais. Cavaco Silva volta a candidatar-se e é eleito à primeira volta (com 50,54% dos votos), tornando-se no primeiro presidente oriundo do centro-direita.

É nos dez anos de tecedura da teia que o levará à Presidência da República que ocorre a sua ligação à SLN, cujo principal activo era o BPN.


Sem comentários:

Enviar um comentário