segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Os contribuintes vão pagar 2000 milhões de euros para o BPN


"Haverá, no final, um custo a suportar pelo Estado e pelos contribuintes que ainda hoje não é possível quantificar", anunciou Francisco Bandeira, presidente do BPN desde a sua nacionalização em Novembro de 2008, aos deputados da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças. "Para já, reporta-se aos capitais próprios negativos do banco que são dois mil milhões de euros".


Sobre o desempenho da sua equipa de gestão disse que "a tarefa de retenção ou captação de depósitos tem sido uma tarefa impossível. (...)
Quando os clientes do papel comercial se manifestavam, os levantamentos de depósitos intensificavam-se. Travar a fuga de liquidez tornou-se um verdadeiro quebra-cabeças. E as taxas praticadas pela concorrência tornaram tudo ainda mais difícil.
[Por isso] as enormes dificuldades de liquidez têm sido supridas pela CGD."
Em resposta à pergunta irónica de Fernando Ulrich, presidente do BPI, na semana passada — "Esses depósitos que saíram do BPN, para onde foram? Uma das hipóteses, que eu considero, é terem saído para a Caixa Geral de Depósitos. É pura especulação, mas nesse caso o esforço financeiro da Caixa não é assim tão grande..." — , Francisco Bandeira revelou que, do total de fundos saídos do BPN desde a nacionalização, "apenas 15% foram para a CGD, uma percentagem muito aquém da quota de mercado natural da Caixa".

Francisco Bandeira disse que a criação de três veículos para assumirem os activos problemáticos do BPN — Parvalorem, Parups e Parparticipadas — se destinou a "tornar mais viável a venda do banco" mas, mesmo assim, "é imperioso regularizar capitais do banco".
Os créditos que foram para a "Parvalorem estão vencidos ou em contencioso. O mais seguro é que as imparidades venham a registar-se".
Do património imobiliário que está na Parups, "vai ser possível rentabilizar alguns activos. Mas vai demorar anos".
Quanto à Parparticipadas, deve "ficar sob a supervisão do Banco de Portugal [e os seus activos] serão alienados". Já foi contratado um banco de investimento para assegurar esta tarefa.
O gestor afirmou ainda que a transferência de activos do BPN para os veículos implicou "muitas centenas de actos materiais e jurídicos. Foi a maior e mais complexa operação do género no país. Feita com a prata da casa".

Estas três sociedades, o chamado bad bank, receberam activos de 3,9 mil milhões de euros e imparidades de 1,8 mil milhões assim distribuídos:
  • a Parvalorem recebeu activos, crédito malparado, de 2,5 mil milhões de euros, aos quais estão associadas imparidades de 1,5 mil milhões;
  • a Parups recebeu património imobiliário de 1,25 mil milhões, cujas imparidades são de 250 milhões;
  • a Parparticipadas recebeu activos de 150 milhões de euros que não têm imparidades associadas.

A injecção de capital de 500 milhões de euros, solicitada ao Estado, vai deixar o banco com uma situação líquida de 300 milhões de euros positivos porque 200 milhões destinam-se a anular as insuficiências de capital do banco, apesar da transferência dos activos problemáticos para os três veículos.


Desde a nacionalização saíram 3,4 mil milhões de euros dos depósitos no BPN, revelou o vice-presidente do banco, Norberto Rosa. Esta fuga de recursos de clientes obrigou a Caixa Geral de Depósitos a emprestar 4,78 mil milhões ao BPN, até ao final do ano passado.

José Lourenço Soares, administrador do BPN, considera que, se alguma vez se recuperar os 1100 milhões de euros emprestados à SLN, será de "pôr uma vela". Por isso é de opinião que nacionalizar toda a SLN, e não apenas o BPN, "seria muito pior para o Estado português e para os contribuintes. (...) Conheço muito bem a situação, mas não lhe posso dizer mais nada".


Continuação desta história aqui.

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Entretanto a SLN, presidida por Fernando Lima Valadas Fernandes, também membro da comissão de honra da campanha Manuel Alegre 2011, fez uma "cirurgia plástica" e agora reapareceu com novo nome: Galilei.

Galileu Galilei, o grande físico pisano criador do método experimental, deve estar a dar voltas no túmulo.


A opinião dos outros:

JCRFG1966 10 Janeiro 2011 - 19:29
Procurem sff assistir à Comissão BPN no canal PARLAMENTO
É simplesmente impressionante assistir, desde o primeiro minuto, ao ataque de Hugo Velosa (PSD) à Administração BPN (CGD).
É incrível verificar como está muito mais agressivo agora, que quando teve na frente a anterior e fraudulenta administração e directores do BPN. A estratégia de branqueamento sobre o que se passou anteriormente é escandalosa, o alinhamento com as recentes declarações de Cavaco, depois de formalmente comprovado o seu envolvimento através da compra privada de acções a preço "especial para amigos", é total. Uma vergonha!
Um nojo esta podridão entre a política e os negócios e a forma como está a ser branqueada.

cmor 10 Janeiro 2011 - 20:07
Já agora...
... quem são os clientes com crédito malparado?



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