terça-feira, 8 de maio de 2012

O cataclismo grego - II


Face ao fracasso da Nova Democracia em constituir governo, o presidente da República da Grécia deu o mandato para a formação de um governo ao líder do segundo partido mais votado, o partido de esquerda radical Syriza.


Alexis Tsipras, de 37 anos, fixou cinco regras para serem cumpridas pelas forças políticas que vierem a participar no governo:

  1. Rejeição imediata do memorando assinado pela Grécia com o FMI/BCE/CE, cancelando todas as medidas em curso que vão "empobrecer ainda mais os gregos", como cortes de pensões e de salários;

  2. Cancelamento imediato de todas as medidas em curso que vão "minar os direitos fundamentais dos trabalhadores", como abolição de acordos de trabalho colectivos.

  3. Abolição imediata da lei que garante imunidade aos deputados, reforma da lei eleitoral e do sistema político com abolição dos 50 lugares para o partido mais votado;

  4. Controlo estatal dos bancos e investigação à banca grega com imediata publicação da auditoria feita pelo BlackRock;

  5. Formação de uma comissão internacional para investigar as causas da dívida pública, com moratória sobre todo o serviço da dívida até que sejam publicados os resultados da auditoria.

Tsipras já recebeu o apoio do partido Esquerda Democrática. Juntamente com o Syriza prefazem apenas 71 lugares, longe dos 151 necessários para uma maioria absoluta.

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Acontece que o orçamento de Estado grego não é equilibrado, ou seja, mesmo excluindo os juros da dívida pública, verifica-se que as despesas públicas são superiores às receitas. Portanto as duas primeiras medidas são utópicas.

A terceira medida só pode merecer o nosso aplauso. É inconcebível que, de dois partidos que receberam sensivelmente a mesma votação, um tenha o dobro dos deputados do outro. O bónus de 50 lugares dado ao partido vencedor baseia-se no princípio de que os eleitores votam mais para serem governados do que para serem representados. Mas é um princípio inaceitável.

Com a corrupção que grassa na Grécia, qualquer pessoa intelectualmente honesta será obrigada a aplaudir a quarta medida. No entanto, numa sociedade que se rege há largos anos por um critério de compadrio, eliminados os actuais corruptos, outros ocuparão os seus lugares.
A não ser que instaurem uma ditadura e reponham em vigor a pena de morte. Foi o que funcionou em Cuba.

Se o governo grego suspender o serviço da dívida, conforme proposto na quinta medida, vai deixar de receber as tranches da troika.
Mesmo que não pague os juros da dívida, como o orçamento do Estado não é equilibrado, rapidamente se vai confrontar com inexistência de dinheiro para pagar os salários da função pública — professores, médicos, enfermeiros, funcionários municipais, ... —, as prestações sociais — abonos de família, subsídios de desemprego, pensões, .... — e a comparticipação nos medicamentos.
Recordemos que, após a tomada do poder em Cuba por Fidel de Castro, ficou um único médico na ilha. Mas a população era pobríssima e não estava habituada ao luxo de ter médico. Não é o caso dos gregos que usufruem de um excelente sistema nacional de saúde. Na Grécia seria o caos.


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