quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A entrevista de Ferreira Leite à TVI24


A mais veemente oposição às novas medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar veio do... presidente da República.
Não directamente, claro, que as pessoas ainda não esqueceram a polémica das "pensões que não davam para pagar as suas despesas", mas pela voz da sua grande amiga Manuela Ferreira Leite:


"Acredito que as pessoas se virem muito para o presidente da República porque sempre foi uma referência na vida nacional e por isso votaram nele e o elegeram.
Mas em relação ao orçamento, em relação àquilo que vai chegar ao presidente da República, devo dizer-lhe que cada um de nós, em consciência, faça aquilo que deve fazer para tentar inverter a orientação política que tem estado a ser seguida. Estou à espera de ver como vão reagir os deputados. Os deputados foram eleitos pelas pessoas. Estou para ver como reagem perante o orçamento, se votam a favor, se votam contra, se aceitam tudo.
Porque se aceitam, devem ficar mal com a sua consciência. (...) E depois fica tudo a olhar para o Presidente da República para ele limpar as consciências do que não fizeram. (...)
Os deputados têm também a função de explicitar a sua não aceitação de determinadas medidas, para assim o Presidente ter margem para intervir.
Os deputados devem votar de acordo com sua consciência. (...) Há disciplina partidária, mas há sempre formas de se abandonar o mandato"
.

"Não nos podemos apoiar naquilo que o Presidente da República pode fazer para nos isentarmos de exercer as obrigações que cada um de nós tem de exercer e até o OE chegar a Cavaco, alguma coisa tem de ser mudada".

"Só por teimosia é que se pode insistir numa receita que já se viu que não cumpre os seus objectivos".

"Ninguém foi ouvido sobre a TSU e ninguém a defende. Não há ninguém que não diga que é uma medida altamente perniciosa, que vai aumentar dramaticamente o desemprego, e que só por teimosia pode vir a ser aplicada".

"[A minha solução] nunca seria muito diferente porque grande parte da orientação é externa". No entanto, "berrava por todo o lado. (...) Então tenho estado a portar-me bem, tenho condições excepcionais no país para fazer tudo bem, e não me ouvem? Para que me serviu ser bem comportada?"

Manuela Ferreira Leite manifestou-se "espantada" com a quebra do consenso político: "Parece que se está a querer ficar igual à Grécia de propósito. O CDS não deve saber o que se passa, senão tem que dar respostas ao eleitorado, e Paulo Portas podia já ter reagido sem ter convocado os órgãos do partido".


Depois criticou o corte das pensões dos reformados que ganham mais de 1500 euros: "De todo o conjunto de medidas, a questão da forma como este governo tem encarado os reformados é para mim a questão mais sensível e a mais tocante do ponto de vista social, pois os pensionistas é um grupo indefeso, não tem forma de se defender”, dizendo-se "convicta que é absolutamente ilegal. Isto não é nenhum corte na despesa, é um imposto".


*

Ah, as pensões. Pois, pois!
Daqui para a frente vai haver um ataque frenético ao Governo da parte dos grandes pensionistas. A indignação que dizem sentir contra o aumento de 11 para 18% da TSU dos trabalhadores, para dar às grandes empresas, é apenas um pretexto para virem a beneficiar com a legítima revolta da população.


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