sábado, 21 de setembro de 2013

O calcanhar de Aquiles de Nuno Crato


A mulher do ministro Nuno Crato foi nomeada pelo Ministério da Educação e Ciência no último Verão para integrar o conselho científico das Ciências Sociais e Humanidades da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Os conselhos científicos da FCT são formados por 54 pessoas. A selecção é realizada pelos serviços da FCT com base nos currículos científicos dos candidatos, que se propõem a partir de uma chamada aberta a toda a comunidade científica”, disse o ministério sobre esta nomeação, tendo sublinhado que a função não é remunerada.

Luísa Paula de Sousa Lobo Borges de Araújo faz parte do conjunto de 14 investigadores que compõem aquele conselho científico e que foram seleccionados em três fases.
Na primeira, os cientistas mostram interesse no cargo, tendo de verificar critérios como ser doutorado e ter pelo menos oito anos de experiência após a obtenção do grau académico. Depois o conselho directivo da FCT propõe os nomes à tutela, cabendo a designação final dos candidatos ao “membro do Governo responsável pela área da ciência”, ou seja, à secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira.

(Maria?) Luísa Borges Araújo é docente do quadro do Instituto Superior de Educação e Ciências, da área de Ciências da Educação/Aprendizagem da Língua Materna. Este instituto é um estabelecimento de ensino superior politécnico particular, reconhecido de interesse público pela Portaria 794/91 do segundo governo de Cavaco Silva, e rege-se pela Lei 62/2007 — Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior — da única maioria absoluta parlamentar socialista e pela legislação aplicável ao ensino superior privado e cooperativo.

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Nuno Crato foi, simplesmente, o melhor ministro da Educação e Ciência desde 25 de Abril de 1974, numa época em que o País está sob assistência financeira do FMI/BCE/CE.
Reorganizou a estrutura curricular do ensino básico, eliminando áreas curriculares não disciplinares — área projecto, estudo acompanhado e educação cívica — sem conteúdos programáticos, puro desperdício onde docentes e alunos nada faziam, e aumentando a carga horária nas disciplinas estruturantes — Português e Matemática. Criou metas curriculares claras e ambiciosas nestas disciplinas e também em Físico-Química, Inglês, Educação Visual, Educação Tecnológica e Tecnologias da Informação e Comunicação.
Acabou com os cursos novas oportunidades que consumiram recursos financeiros e produziram diplomas e ilusões.
Devolveu a autoridade aos professores no Estatuto do Aluno e Ética Escolar e incentivou os docentes a voltarem costas à burocracia e a retornarem à sua função primordial: ensinar. E, no caso do novo programa de Matemática, muito semelhante ao anterior, libertou os professores de todas as recomendações pedagógicas sobre a maneira como devem ensinar.
Pretende criar uma prova de acesso à carreira docente do ensino não superior para evitar que continuem a entrar nos quadros das escolas públicas pessoas formadas em universidades e institutos politécnicos com reduzida idoneidade, que não dominam os conteúdos científicos que é suposto ensinarem aos alunos.

Mas a Fundação para a Ciência e Tecnologia não é uma fundação qualquer: é a instituição dependente do Ministério da Educação e Ciência que avalia e financia a investigação científica e o desenvolvimento tecnológico em Portugal. O Instituto de Educação e Ciências é um ilustre desconhecido; Luísa Araújo também. Convinha algum recato.


Dezenas de professores desempregados aproveitaram para descarregar tensões psíquicas comentando a notícia do Público. Mas há um comentário digno de relevo:

Antonius
Porto 16:06
"À mulher de César não basta ser honesta, há que parecer". Não estamos a falar do Conselho Científico de uma faculdade ou numa eleição inter-pares, estamos a falar de um cargo ocupado por nomeação do Ministério.
Perante o nome da mulher do Ministro, que Secretário de Estado não iria nomeá-la? Deveria ter havido contenção da candidata e um pouco de vergonha por parte do Ministro em aceitar esta nomeação (certamente não nos vai querer convencer que não sabia que a mulher se tinha candidatado ao cargo, pois não?).


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