quarta-feira, 5 de março de 2014

Parte dos cortes dos salários e das pensões vão ser permanentes


Os défices públicos em 2009 e 2010 foram respectivamente 10,2% e 9, 9% do PIB. Os défices acrescem à dívida pública. A dívida pública paga juros, aumentando automaticamente o défice do ano seguinte mesmo que não haja crescimento das outras despesas.
E que juros! Quando já estava com a corda na garganta, José Sócrates foi pedir empréstimos com juros agiotas de 6,7% à China. Além de ter deixado compromissos contratuais — PPP e outros — blindados por chorudas indemnizações que começavam a ser pagos nos anos seguintes.

Como é que se podiam baixar défices neste quadro financeiro dramático? Cortando as despesas nas administrações públicas e no sector empresarial do Estado e aumentando as receitas. E como os salários da função pública e as pensões constituem dois terços das despesas, inexoravelmente iam ser gravemente atingidos.

Agora expliquem-me como se diz a uma pessoa que recebe um salário ou pensão entre 700 e 3000 euros, mas nada percebe de economia, nem quer perceber, que vai sofrer um corte radical de 20 ou 30% no rendimento durante mais de uma década?
Anualmente, vão-se fazendo cortes mais pequenos e cumulativos para que a pessoa possa adaptar-se e ir diminuindo as despesas familiares e diz-se que são transitórios. Ou seja, mente-se.

Por isso, só quem é muito ingénuo ou ignorante é que ficou surpreendido quando o primeiro-ministro revelou, quase três anos depois do resgate, que parte dos cortes dos salários e das pensões vão ser permanentes:


05 Mar, 2014, 20:35


Recorda-se, caro leitor, de alguma manifestação para agregar municípios, exigir rigor às empresas municipais ou diminuir o número de deputados do parlamento?
Ou para cortar nas transferências para as regiões autónomas da Madeira e dos Açores?
Ou para cortar nas subvenções anuais pagas aos partidos políticos com mais de 50 mil votos, nos subsídios dados às fundações privadas ou nas pensões milionárias?

Para diminuir o número de juntas de freguesia, Passos Coelho teve de enfrentar uma berraria desenfreada da politicagem que vive à sombra dos impostos dos contribuintes, a começar no próprio PSD.
Para cortar 30% nos subsídios dados às fundações privadas e 50% nas pensões acima de 7127 euros, sem criar excepções, concitou a raiva do ex-presidente da República Mário Soares que tem estado a congregar toda a oposição contra o governo, movendo-lhe uma guerra sem quartel.

É verdade que continuam a fazer-se negócios prejudiciais ao Estado como sejam a privatização do BPN, a venda do pavilhão Atlântico por uma quantia ridícula ou a contratação de assessores imberbes com salários excessivos. Mas como é que Passos Coelho conseguia respirar sem o apoio de Cavaco Silva e equilibrar a propaganda dos partidos da oposição nos comentários das notícias on-line sem o amparo dos “jotinhas” sociais-democratas?

Neste contexto, uma deputada dizer ao primeiro-ministro no debate quinzenal no parlamento, no início de uma pergunta, que "a sua palavra não vale nada" só pode classificar-se como ignorância, demagogia ou grosseria.
Muito digna a atitude de Passos Coelho, quando se recusou a responder à pergunta da actriz Catarina Martins, invocando o “direito à indignação, por uma questão de respeito a esta câmara e por mim próprio”:


05/03/2014 - 17:19


O que é lamentável é que muitas vezes Passos Coelho não assuma, ou não possa assumir, esta postura.
O posterior abandono do hemiciclo pelos deputados do Bloco de Esquerda em protesto contra o primeiro-ministro, foi uma fantochada. Depois da saída de Francisco Louçã, o Bloco deixou de saber argumentar, limitando-se os bloquistas a proporem temas fracturantes, como a legalização da cannabis, a fazerem cenas de teatro e a ofenderem quem lhes apetece em nome da democracia.


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