sexta-feira, 23 de maio de 2014

Uf, acabou a campanha eleitoral


Está a terminar a campanha eleitoral das eleições para o parlamento europeu. Felizmente. Já não havia pachorra para aturar tantas promessas falaciosas, tantos ataques pessoais, tanta safadeza, tanta embustice e tanta estupidez.


Começou por um eurodeputado propor a criação de mais um partido político — vão concorrer dezasseis! —, localizado entre o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Socialista (PS), que diz defender a presença do País na União Europeia e procurar uma aliança política com o PS. E pretende, dizemos nós, manter a sinecura do seu fundador no parlamento europeu e, se possível, arranjar emprego para alguns dos seus amigos.

Um dos piores problemas da democracia portuguesa é justamente este: a rapaziada passou a considerar a política como uma profissão. A manha nasce nas escolas com as viagens de pseudo-intercâmbio escolar a Santander, a Bruxelas, a Roma, ... , dos “clubes europeus” criados por professores enquadrados por eurodeputados. Depois cresce na adolescência com a filiação nas juventudes partidárias enquanto fingem que estudam em Lusófonas, Portucalenses e quejandas. Quando atingem a idade adulta já não querem outra coisa, senão ficar na política para o resto da vida.
Como o PS não consegue arranjar emprego para todos nas autarquias ou no governo, há que ser empreendedor. Estagia-se no BE, tenta-se obter um cargo e depois de ganhar fama cria-se um partido novo, ou então dá-se o salto para o PS.

A ambição de Rui Tavares é emular Louçã e criar um novo Bloco. Mas, mesmo que o Livre nunca consiga eleger deputados, basta obter 50 mil votos nas legislativas — artigo 5 da Lei 19/2003 — para passar a receber uma subvenção anual. Isto funciona? Claro, já temos o MRPP e o PAN a viverem à custa dos impostos dos contribuintes.


No entanto, Rui Tavares é um santo quando comparado com a sua colega Joana Amaral Dias.
Nas legislativas de 2002, o BE só elegeu três deputados, que suspenderam funções ao longo da legislatura para que os três candidatos que vinham a seguir nas listas ganhassem experiência parlamentar. Assim, graças a Louçã ter suspendido funções, Joana Dias foi deputada no ano seguinte e suplente até ao fim da legislatura.
Apesar de ser a cabeça de lista do BE por Santarém, nas legislativas de 2005, a senhora aceitou com entusiasmo o convite para ser mandatária para a juventude da candidatura de Mário Soares à presidência da República, em 2006. O facto do BE ter um candidato próprio, o líder Francisco Louçã, não a perturbou.

Chegamos às legislativas de 2009 e Joana Amaral Dias é convidada para as listas do PS que precisava de retirar votos ao Bloco. O convite é divulgado na imprensa, e prontamente negado por vários dirigentes do PS, incluindo José Sócrates e Paulo Campos.
Mas a criatura vem confirmar o convite, acabando o então secretário de Estado Paulo Campos por vir a público declarar que a havia contactado para saber da sua disponibilidade para integrar as listas do partido. Só que o episódio, em vez de a lançar no Bloco, fê-la cair: a direcção excluiu-a do grupo de dirigentes.

Agora que Seguro anda a procurar apoios à esquerda e à direita, Joana Dias não se fez rogada. Com o argumento de defender uma aliança política com o PS, demitiu-se do BE, na semana passada, e foi logo discursar na Convenção "Novo Rumo" do PS, onde aproveitou para homenagear o falecido socialista Medeiros Ferreira com a citação "atenção a este rapaz, precisa de quem o trave”, uma referência ao actual primeiro-ministro que tem mais onze anos que ela.



Apesar de servir de trampolim para voos mais altos, o BE continua a conservar uns espécimes interessantes. Até há pouco tempo, a grande medida proposta pelo partido para relançar a economia portuguesa era a legalização do cultivo de cannabis, acompanhada por um calote duro e às claras na dívida pública, de modo a sermos corridos da Zona Euro e passarmos a invejar o nível de vida da Turquia.
Recentemente, o BE deu um sinal de que também cultiva o humor quando a cabeça de lista do partido, que é suposto ir ser eleita para o parlamento europeu para defender os interesses do País na Europa, propôs durante a campanha eleitoral uma nova medida de grande alcance económico: incluir o surf nos currículos escolares.





Sobre o PCP há que fazer este reparo: ainda não reparou que, em todos os países — excepto Cuba e a Coreia do Norte — onde o comunismo foi implantado, o regime implodiu, mais ou menos fragorosamente, dando lugar a um capitalismo selvagem.
O erro está na hipótese de que as pessoas são todas iguais. As oportunidades que a sociedade tem de proporcionar às pessoas é que devem ser iguais. Depois, uns aproveitam para desenvolver as suas capacidades, outros preferem folgar. No final terão o correspondente retorno e a sociedade permanece estratificada.


Não se pense que nas cúpulas dos grandes partidos houve mais dignidade. Excluído por Passos Coelho da lista dos verosímeis candidatos presidenciáveis por ser cata-vento, epíteto que, convenhamos, lhe assenta como uma luva, Marcelo Rebelo de Sousa ofendeu-se, disse retirar-se da corrida, mas logo de seguida apareceu no congresso do PSD e agora usou a lábia de advogado para fazer campanha pela pobríssima lista da coligação PSD-CDS.

No PS, Seguro prometeu tudo no "Contrato de confiança": não fazer despedimentos na função pública, eliminar os cortes nas pensões, reduzir gradualmente a sobretaxa de IRS e não aumentar impostos.
Há quarenta anos a palavra “fascista” era ignorada em Portugal. No dia 25 de Abril de 1974 surgiu repentinamente e converteu-se num impropério muito usado na época para atacar as pessoas que detestávamos. Em fins de 2011 foi o termo “nazi” que virou o insulto da moda e agora foi aproveitado por Alegre para atacar Rangel, o cabeça de lista da coligação PSD-CDS que chamou ao PS, o “vírus socialista” que necessitava ser combatido com a “vacina” consubstanciada no voto na coligação.
E que dizer da lista de candidatos do PS, que é o mais importante em qualquer eleição? Bem, com excepção de dois ou três nomes, é uma caixinha de horrores onde há de tudo, desde negócios obscuros a bancarroteiros.

*

Mas então em quem vamos votar?”, perguntará o leitor. Em Outubro de 1973, também fizemos essa pergunta e chegámos à conclusão que a única atitude admissível, quando as eleições não são livres, é a abstenção.
Agora, porém, são livres. Portanto temos de ir votar.

Não em branco, porque não estamos num país do Norte ou centro da Europa e pode haver mesas de voto onde um português desenrascado se lembre de pôr uma cruz nestes boletins de voto depois das urnas serem abertas.

Começamos por desenhar uma cruz no quadrado correspondente ao partido ou coligação onde desejamos votar. Como se pode ver, o boletim de voto tem imenso espaço. E há tantos recados que gostaríamos de mandar aos partidos, que podemos escrevemos alguns. Por exemplo:

Caros Senhores,
  • Alterem a lei eleitoral para a assembleia da República, reduzindo o número de deputados para 180
  • Façam listas abertas para podermos escolher pessoas
  • Reunam autarquias (tal como foi feito com cerca de mil freguesias)
  • Eliminem os vereadores sem pelouro nas câmaras municipais
Custando cada vereador mais de 50.000 euros por ano e havendo 3 vereadores sem pelouro, em média, no universo das 308 autarquias (ver Detalhes), obtemos uma poupança anual de cerca de 46 milhões de euros:

50.000 x 308 x 3 = 46.200.000

Fica o voto anulado? Temos pena.

Não estamos sozinhos, há boa gente que já assumiu esta decisão.


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