terça-feira, 10 de junho de 2014

O discurso de Cavaco Silva às Forças Armadas no 10 de Junho de 2014


No seu discurso às Forças Armadas, durante a cerimónia militar no Parque Urbano do Rio Diz, na Guarda, o Presidente da República começou por prestar homenagem aos soldados portugueses que foram enviados para a primeira guerra mundial, sem preparação nem equipamento, para combater e morrer.
A seguir alertou para a necessidade de salvaguardar a capacidade operacional das Forças Armadas e defendeu que devem ter um estatuto especial e privilégios de classe.

Discurso que ficou marcado por uma indisposição de Cavaco Silva, num momento em que se ouvia o ruído dos protestos de uma centena de sindicalistas, o que obrigou a interromper a cerimónia durante 25 minutos. Depois de assistido nas traseiras da tribuna, o Presidente retomou a sua intervenção, recebendo uma salva de palmas dos guardenses que assistiam às cerimónias:

10 Jun, 2014, 12:02

"Este ano, evocamos o centenário do início da Primeira Grande Guerra. Importa recordar todos aqueles que sucumbiram e se sacrificaram ao serviço da Nação nos campos de Batalha da Flandres, de Angola e de Moçambique, mas cabe também reflectir sobre as circunstâncias que rodearam a nossa participação no conflito.

Recordar para entender as gerações que nos precederam, as razões das suas lutas, os caminhos que trilharam e as opções que fizeram. Recordar para aprender com os nossos feitos e os nossos erros, porque o País que ignora a História, que não recorda e não aprende com o seu passado, tende a repetir os mesmos erros no futuro.

A Grande Guerra foi antecedida, na Europa, por um período marcado pelo progresso tecnológico e pela inovação artística e cultural. Alguns chamaram-lhe a “idade dourada da segurança”. Em pouco tempo, esta situação alterou-se, com o desencadear de um conflito mundial que surpreendeu pela sua brutalidade e destruição, dilacerando povos e países.

A eclosão deste conflito encontrou Portugal extremamente fragilizado. Internamente, via-se a braços com uma profunda crise política, económica e social e, externamente, defrontava-se com ameaças aos seus territórios ultramarinos e com a necessidade de reconhecimento e legitimação internacional do novo regime republicano.

A decisão de participar na Guerra foi tomada sem os indispensáveis consensos e sem ter em conta a débil capacidade militar existente.

Um combatente de então retrata bem a realidade da época: “lançado, inesperadamente, numa Guerra que estava longe de prever, o país viu-se em dificuldades, com um exército desprovido de organização apropriada, sem uniformes, sem armamento, sem munições, sem transportes e sem dinheiro”.

A falta de preparação do País para assumir tão importante compromisso reflectiu-se, por um lado, no aprontamento apressado do Corpo Expedicionário Português, que ficou conhecido, sugestivamente, como o “Milagre de Tancos”, e, por outro lado, na incapacidade de projectar e apoiar as Tropas portuguesas em França e em África, remetendo-as ao total abandono.

Houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no regresso. As decisões tomadas nos corredores de Lisboa não se revelaram ajustadas, ignoraram os avisados pareceres militares, interferindo abusivamente na acção de comando.

Pode dizer-se que os militares que foram para a Flandres e para África nada tinham senão a coragem.

E foi somente a coragem, a valentia demonstrada pelos soldados no Campo de Batalha que permitiu honrar Portugal com o desfile do seu contingente, ao lado dos aliados, na parada da Vitória sob o Arco do Triunfo e que permitiu a salvaguarda das possessões ultramarinas.

(...)

Este centenário deve, também, constituir-se para a Europa e para o Mundo como um momento de reflexão sobre os rumos e as opções que diariamente se assumem.

Assiste-se hoje a uma perigosa indiferença perante importantes questões de segurança, negligenciando-se as causas geradoras de conflitos, nomeadamente o recrudescimento dos nacionalismos e a irrupção das tendências separatistas.

Os recentes acontecimentos no Mundo e, em particular, na Europa aí estão para o comprovar.

A reflexão que nos merece esta página da nossa História é que a segurança e a paz não são dados adquiridos. Dependem da vontade e das decisões de terceiros e da confluência de circunstâncias várias.

Em termos nacionais, é essencial a existência de Forças Armadas prontas e preparadas para servir o País, com uma capacidade de resposta adequada e assente na eficácia da organização, na qualidade dos equipamentos e na motivação dos seus quadros e tropas.

A complexidade do processo obriga a uma preparação rigorosa e demorada. Os Exércitos não se improvisam. Preparam-se.

(...)

Neste quadro, e como afirmei recentemente, identificam-se duas importantes áreas de actuação.

Uma, a salvaguarda da capacidade operacional. Portugal precisa de umas Forças Armadas credíveis, coesas e treinadas, capazes de assegurar o cumprimento das suas missões dentro e fora do território nacional.

A outra, as pessoas. Porque é nelas que reside a força, a determinação e o culto dos valores nacionais das Forças Armadas. É sobre elas que recai a responsabilidade do exercício da função e que se fazem sentir as maiores dificuldades. É por isso que a acção de comando deve ser centrada nas pessoas, dando especial atenção aos problemas concretos dos militares.

Pela sua importância e pelos reflexos na coesão, no moral e na disciplina, é legítima a expectativa dos militares quanto ao processo de instalação do Hospital das Forças Armadas e, também, quanto ao resultado do trabalho conjunto, entre os Chefes Militares e a tutela, em relação à proposta de revisão do seu Estatuto."





10/06/2014 - 10:38


*

Hoje não foi Cavaco Silva quem foi desrespeitado durante o discurso que proferia às forças armadas no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Foi o Presidente da República no cumprimento do dever de honrar o povo que o elegeu.

Pouca cultura terá aquele que não perceber a diferença. As gentes da Guarda perceberam. Vexados ficaram os professores que obedecem acéfala e caninamente ao indivíduo boçal que comandou uma manifestação no dia da festa de todos os portugueses. Além de ensinar, um professor também tem a missão de educar os alunos, empenhando-se em ser uma referência na sociedade. Doravante os intervenientes neste deplorável episódio não mais poderão lamentar-se quando forem desrespeitados dentro de uma sala de aula.

Que este acontecimento, porém, possa induzir a uma reflexão por parte de políticos arrogantes.
Quando aqueles que sempre respeitaram os seus concidadãos, se orientaram pelo princípio do mérito e trabalharam uma vida inteira no ensino com brio são abandonados aos insultos da populaça e ao arbítrio de gente torpe que atingiu cargos de chefia pelos tortuosos caminhos desta peculiar democracia, e por esta gente são destruídos, a barreira que protege os políticos vai-se dissolvendo nas brumas da memória.

E um dia chega a vez deles serem injuriados, vilipendiados e perseguidos. Hoje foi esse dia.


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