sexta-feira, 15 de agosto de 2014

100º aniversário do canal do Panamá


A primeira tentativa de construir um canal para ligar o oceano Atlântico ao oceano Pacífico começou em 1881 quando uma empresa francesa liderada por Ferdinand de Lesseps, construtor do canal do Suez, iniciou as escavações no istmo do Panamá.

Confrontado com os difíceis problemas de engenharia colocados pela geologia e hidrologia da região, com a malária, a febre amarela e outras doenças relacionadas com o clima tropical e a selva do Panamá e altamente pressionado pelos pequenos aforradores que haviam enterrado as poupanças no financiamento da obra, Lesseps foi obrigado a desistir da construção de um canal ao nível do mar, tendo contratado, em 1887, o engenheiro Gustave Eiffel para planear um canal de eclusas.
Demasiado tarde, as obras tiveram de parar em 1889 quando a empresa faliu. Com o aprofundar do escândalo, Ferdinand de Lesseps passou de herói do Suez a arguido num processo de corrupção que envolveu bancos, deputados, ministros e até a comunicação social.

Em 1894, foi criada uma nova empresa francesa para gerir os activos e terminar a construção do canal. Não logrando obter financiamento, nem dos investidores privados, nem do Estado, as escavações voltaram a parar em 1898 e a empresa procurou vender os activos por 109 milhões de dólares aos Estados Unidos. Depois da comissão americana que visitou as obras ter proposto, em 1901, a construção de um canal inter-oceânico na Nicarágua, os Estados Unidos conseguiram concertar a compra dos direitos e das instalações aos franceses por 40 milhões de dólares.

Faltava resolver o problema da concessão com a Colômbia, país ao qual pertencia a província do Panamá e cujo senado recusou um tratado com os Estados Unidos. O apoio americano a separatistas panamianos deu origem à nova República do Panamá, em Novembro de 1903, com a qual estabeleceram um tratado, em Fevereiro de 1904, que lhes conferia direitos absolutos e eternos sobre a zona do canal. Dois meses mais tarde completaram a compra das acções e dos activos da nova empresa francesa que deu uma indemnização de 10% da receita aos obrigacionistas da antiga empresa de Lesseps, ficando os accionistas a ver navios.

Os franceses haviam escavado 23 milhões de metros cúbicos de terra, gasto 287 milhões de dólares e sacrificado a vida de 20 mil trabalhadores.

Retomadas as obras em 1904, os americanos tiveram de retirar mais 183 milhões de metros cúbicos, sobretudo, no corte Culebra cuja escavação foi uma epopeia. Mesmo recorrendo a comportas e barragens para resolver os problemas de engenharia, beneficiando de uma organização do trabalho adequada e dispondo de equipamento tecnologicamente mais avançado, os custos ascenderam a 386 milhões de dólares e, por doenças e acidentes, morreram mais de 5 mil trabalhadores. Muito menos, porém, que no tempo dos franceses porque já havia sido estabelecida a relação da malária e da febre amarela com os mosquitos que propagam estas doenças e foi criada uma rede sanitária à volta das instalações.

Em cada extremidade do canal foi construído um sistema de comportas para elevar os navios até ao lago Gatún, um lago artificial criado 26 metros acima do nível do mar para reduzir o trabalho de escavação do canal. Cada comporta tem 33,5 metros de largura. Finalmente o canal foi inaugurado em 15 de Agosto de 1914.

Inauguração do canal do Panamá no dia 15 de Agosto de 1914: o SS_Ancon percorre o canal.


Em 1977, foi assinado um novo tratado com o Panamá que aboliu gradualmente os direitos absolutos adquiridos pelos Estados Unidos da América em 1903, com o canal a passar para o controle total do Panamá em 1 de Janeiro de 2000.
O canal continua a ser crucial para os Estados Unidos da América, não só em termos do comércio entre a costa leste e oeste, mas também numa perspectiva de estratégia militar. É considerado pela Sociedade Americana dos Engenheiros Civis como uma das sete maravilhas do mundo moderno.

Esta infografia do Público mostra o trajecto dos navios ao longo do canal, os três conjuntos de comportas actuais e a nova faixa de comportas que está em construção e deve ser inaugurada em 2015:




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