sexta-feira, 1 de agosto de 2014

BES afunda na bolsa e Estado entra no capital


Na noite de quarta-feira ninguém conseguiu ficar indiferente à revelação de que, nos primeiros seis meses do corrente ano, os prejuízos do Banco Espírito Santo (BES) superavam 3,5 mil milhões de euros.
Os portugueses estão bem recordados da redução salarial nas administrações públicas e no sector público empresarial, dos cortes nas pensões, das sobretaxas e do aumento do IRS para pagar despesas extraordinárias como as causadas pela nacionalização do pequeno BPN. Ninguém queria acreditar que agora havia problemas graves com o maior banco privado português.

Mais desassossegados ficaram os pequenos accionistas do BES que não leram o prospecto do aumento de capital, de 20 de Maio passado, e receavam ver afundar um investimento considerado seguro até há um par de meses. Não fora o buraco de 1,2 mil milhões revelado na Espírito Santo Internacional e nunca teriam sabido da existência do Grupo Espírito Santo (GES) e muito menos desta holding, no Luxemburgo, cuja sombra ameaçadora passou a pairar sobre o banco quando, a 18 de Julho, pediu protecção de credores.
E mais desassossegados ainda ficaram quando, mal saídos de um aumento de capital, souberam que ia haver outro e de proporções que se previam descomunais...

Deliberou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a suspensão da negociação das acções do banco até às 10:00 de quinta-feira, dia 31 de Julho, de modo a permitir aos investidores a análise dos comunicados do BES. Mas o investidor português é pouco dado a análises de prospectos de aumentos de capital, de balanços ou de comunicados de empresas cotadas. Investe por sugestão de amigos ou dos trabalhadores dos bancos.
Face à cotação de fecho de 0,3470 euros, uma abertura em 0,2250 euros afundou-lhes as esperanças. Ninguém estava preparado para uma queda de 42,07% em relação ao fecho do dia anterior, porém, foi o que aconteceu:




Entretanto soube-se que o banco francês Société Générale estimara um aumento de capital de 3 mil milhões de euros, admitindo o risco de "um grande desvio" face a esta avaliação, devido à exposição ao GES, a potenciais indemnizações que venham a ser exigidas ao banco e ao buraco financeiro no BES Angola. E havia baixado o preço-alvo das acções de 1,14 euros para 16 cêntimos.
Prevendo o pior, a CMVM proibiu o short-selling a partir de sexta-feira, dia 1 de Agosto, e até ao fim da próxima segunda-feira.

Hoje, 1 de Agosto, a CMVM aguentou a primeira queda. Aguentou a segunda.
Pelas 13:59, o BES comunicou à CMVM que o Goldman Sachs, depois de vender 4.445.180 acções no dia 23 de Julho, havia ficado com 107.187.758 acções, ou seja, com 1,91% do banco. Era uma pequena diferença, mas o facto do Goldman deixar de ter a participação qualificada de 2% no capital do BES foi interpretado pelos pequenos investidores como um sinal muito negativo.
Pelas 15:00, com a cotação perto dos 16 cêntimos previstos pelo banco de investimento francês, instalou-se o pânico e começou a queda a pique até aos 10,1 cêntimos:




Às 15:42, face a uma desvalorização de 65% em dois dias, a CMVM suspendeu a negociação sine die:
01 de Agosto de 2014

O Conselho Diretivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deliberou, nos termos do artigo 214º e da alínea b) do n.º 2 do artigo 213º do Código dos Valores Mobiliários, a suspensão da negociação das ações do Banco Espírito Santo, SA até à divulgação de informação relevante sobre o emitente.

O Conselho Diretivo


SIC e TVI acabam de noticiar que o Estado vai entrar no capital do BES

"A solução está a ser negociada pela nova administração do BES e pelo Banco de Portugal, em ligação com o Ministério das Finanças", disse a SIC, tendo acrescentado que as fontes oficiais do Governo asseguraram que os depósitos dos clientes estão completamente garantidos.
A entrada do Estado no capital do BES "deverá ser feita por duas vias: uma entrada directa através da subscrição de acções pelo Estado português e um empréstimo em regime de capital contingente. Este regime consiste em obrigações que serão convertíveis em acções se não forem pagas no final do prazo previsto".
"Esta solução mista é idêntica à que foi aplicada no Banif, em que o Estado subscreveu directamente 700 milhões de euros e emprestou mais 400 milhões em capital contingente", concluiu a estação.

Já a TVI apurou que "a solução vai passar por dois tipos de intervenção do Estado. Uma delas é pela entrada directa do capital — nacionalização parcial do banco, como aconteceu no Banif, que ainda hoje tem o Estado como maior accionista". A outra intervenção do Estado será através de um empréstimo, tal como sucedeu no Banif, no BCP e no BPI.
"Este empréstimo será feito através da emissão de títulos de capital contigente. Contam para o cálculo dos capitais próprios, que no caso do BES se encontram muito degradados depois dos prejuízos históricos apresentados esta semana. Este tipo de obrigações vai obrigar o BES a pagar uma taxa de juro ao Estado que se pode aproximar dos 10% ao ano. Qualquer uma das opções obriga os accionistas do BES a reunirem em Assembleia Geral para aprovarem a proposta a apresentar pela administração", noticia ainda a TVI.

Recorde-se que a ministra das Finanças reservou 6,4 mil milhões de euros da linha de 12 mil milhões da troika para capitalização da banca, a pensar no BES.
Esta linha tem sido um excelente negócio para o Estado porque paga à troika uma taxa de juro média de 3,2% e está a cobrar juros de 8% aos bancos. Por isso, os bancos têm estado a fazer aumentos de capital para pagarem os empréstimos ao Estado e livrarem-se destes juros exorbitantes.


5 comentários:

  1. Bom, ora, como é óbvio, quem paga (vulgo contribuinte) não pode continuar a ser 'comido a torto e direito'... leia-se: quem paga (vulgo contribuinte) deve possuir o Direito de defender-se!!!
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    -» Votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
    ---> Leia-se: deve existir o DIREITO AO VETO de quem paga!!!
    [ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'].
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    P.S.
    DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA:
    - possibilita a existência de um processo ágil de tomada de decisões... e... permite que o contribuinte não passe um 'cheque em branco' aos políticos.
    Nota: Vantagens da Democracia Semi-Directa 'Fim-da-Cidadania-Infantil' em relação à Democracia Directa:
    1- em caso de necessidade (depois haverá uma análise dos fundamentos) o Executivo Governamental poderá tomar decisões rápidas;
    2- o contribuinte não será atafulhado com casos de 'custo-bagatela'.

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