quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Debate Primárias PS na SIC


Depois do debate da noite passada na TVI, António José Seguro e António Costa, os dois únicos candidatos às primárias do PS do próximo dia 28 de Setembro, voltaram a enfrentar-se no segundo debate.
Nesta noite, o líder do PS e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa focaram o debate na dívida pública:

23:02 10.09.2014


António José Seguro começou por sublinhar que traz um projecto de mudança na forma de fazer política em Portugal, separando claramente os negócios da política. Sublinhou também que o Governo PSD/CDS apostou no empobrecimento do País, tanto dos activos como dos rendimentos das pessoas, para sair da crise enquanto ele defende o crescimento económico e que o motor desse crescimento deve ser um plano de reindustrialização.
António Costa defendeu também um programa de recuperação económica para dar força às empresas, diminuir o desemprego, aumentar o salário mínimo e repor pensões cortadas. Perante a insistência de Clara de Sousa em conhecer propostas concretas, Costa esquivou-se, dizendo que não se candidata apenas às primárias: "Candidato-me para disputar as legislativas daqui a um ano e portanto fixei um calendário. Agora temos as primárias onde apresento as grandes linhas de orientação programática, depois temos um congresso onde apresentarei a proposta que levarei à concertação social para termos um contrato de concertação social estratégico que mobilize o conjunto da sociedade portuguesa para resolver os nossos problemas estruturais e finalmente, antes das eleições, a apresentação de um programa de governo”.

Seguro salientou o trabalho já feito, em Maio, pelo movimento Novo Rumo donde saiu um contrato de confiança com 80 propostas concretas para um Estado com bons serviços públicos, boa escola pública, boa protecção social e bons cuidados de saúde. "É muito importante que os portugueses saibam com antecedência quais são as bases programáticas. O próximo governo tem de ser de projecto e de alternativa. Dizemos ao país, um ano antes de haver eleições, que estamos preparados para governar Portugal com cinco objectivos: criar riqueza e emprego, recuperar o rendimento dos portugueses, reformar o Estado, ter voz firme na Europa e ter capacidade para garantir as funções sociais do Estado".
Sobre a sua proposta de eleições primárias no PS, Seguro disse que o fez porque vivemos um momento histórico na vida dos portugueses: “Vivemos uma crise de confiança nas instituições da justiça, bancárias e de supervisão e, sobretudo, uma crise de confiança no sistema político e de governação. (...) É necessário tomar a iniciativa e, na sequência das eleições europeias, comprometi-me a apresentar, e fá-lo-emos até dia 15, uma lei de incompatibilidades separando política e negócios claramente e uma nova lei eleitoral que permita a todos os eleitores portugueses, não apenas ratificar as listas dos partidos, mas também escolher o seu deputado”.

Declarando que "o Seguro tem muitas vezes uma visão de que tudo gira à volta dele", Costa criticou as propostas do contrato de confiança: "Várias delas são banais, como a 76, que não é original. (...) Destas 80 propostas, só seis propostas e meia é que não constavam do programa eleitoral de 2009", afirmando que "estas ideias que aqui estão não são do Seguro, fazem parte do património histórico do PS". Também procurou desvalorizar a nova lei eleitoral que diz ter sido apresentada em 1995 quando ele era ministro dos Assuntos Parlamentares do governo Guterres.
"O contrato de confiança foi preparado por muitos milhares de portugueses. Fica-te mal apoucar esse contributo", respondeu o líder do PS. E salientou: “A economia só cresce se tiver um motor que não gripe e para isso propomos um plano de re-industrialização com três eixos. O primeiro associado aos sectores tradicionais — os têxteis, o calçado, os moldes, ... O segundo associado aos produtos endógenos, designadamente a agricultura pois temos de reduzir o défice alimentar. E o terceiro é a quarta revolução industrial, a era do digital porque temos os recursos e somos altamente competitivos: o custo da investigação e desenvolvimento é um terço do custo na Alemanha. O plano de re-industrialização que propomos é uma coisa completamente nova. Não só dizemos onde queremos chegar, mas também como queremos lá chegar”.

Sobre a questão da dívida pública, António José Seguro expôs com clareza a sua posição: "O António Costa dizia ontem que não se podia comprometer com propostas concretas. E há uma questão fundamental que diz respeito à dívida pública. Temos um problema gravíssimo com a dívida, pagamos mais de 7 mil milhões de euros de juros e não compreendo como é que um candidato que quer ser primeiro-ministro não o considera da maior relevância".
António Costa respondeu que “a moeda única produz uma assimetria no conjunto das economias. Isso não me torna eurocéptico mas euro-exigente. Não podemos continuar a ter uma posição fraca na Europa. Para mantermos uma moeda comum a todas as economias, temos de ter um reforço dos mecanismos de compensação das desigualdades. Quando se criou o mercado interno, foram criados os fundos estruturais, mas os fundos não foram reforçados quando se criou a moeda única. (...) A questão da dívida colocar-se-á no momento próprio". E deu o exemplo dos "governos francês e italiano que estão a apostar agora, com a concordância do presidente da Comissão Europeia, em reforçar a capacidade de liquidez pelo aumento dos fundos disponíveis e não pela redução da dívida".
Seguro manifestou-se surpreendido porque "esta argumentação é, em parte, a do governo português. A dívida é um problema mas não devemos discutir agora. Foi isso que António Costa fez quando apresentou o seu documento e sobre a dívida disse zero. Ora é impossível ser candidato a candidato a primeiro-ministro e não ter uma posição clara sobre a dívida. Eu sou claro e já apresentei propostas para diminuição dos juros". E acentuou: "Desde o momento em que Mario Draghi tomou decisões no BCE, as taxas de juro baixaram. Em Portugal, eu disse isso desde muito cedo, mas responderam que era impossível. Depois todos bateram palmas a Draghi. (...) A União Económica e Monetária só é económica no nome, no resto é monetária. Há uma política cambial única, há uma política monetária única e há 18 politicas orçamentais. Tem de haver uma capacidade orçamental no seio da Zona Euro. É necessária uma resposta comum, que é através da mutualização da dívida. (...) Eu sou europeísta, mas o ideal europeu está a ser traído e não gosto da Europa que vejo. A crise começou em 2008, fora da Europa, e neste momento transformou-se uma crise da União Europeia", acrescentou.

"Vejo com satisfação que partilhamos o mesmo ponto de vista sobre a natureza e origem da crise", interrompeu Costa para, de seguida, elogiar a reforma das freguesias que fez em Lisboa e enterrar Seguro que se opôs à reforma administrativa. "Nunca deixei de andar de Norte a Sul, conhecendo melhor o nosso país", respondeu António José Seguro. "Fizeste muitos quilómetros", interrompeu o autarca de Lisboa. O secretário-geral do PS continuou: "Não estive à janela do município a ver qual era a minha oportunidade". "À janela?", contrapôs Costa. "Os autarcas andam no terreno, a conhecer as pessoas, com os pés na terra!".

Questionado sobre os possíveis entendimentos políticos do PS para formação de um governo, Seguro respondeu: "Lutaremos por uma maioria absoluta e queremos criar condições para o envolvimento político de todas as forças sociais. Se não houver maioria absoluta é meu dever procurar apoio parlamentar maioritário, mas há limites: não farei acordo com quem quer desmantelar as funções sociais do Estado, com quem quer sair do euro ou fazer privatizações como as da CGD ou da TAP. Não quero ser primeiro-ministro a qualquer custo".
Costa declarou não excluir ninguém que esteja no parlamento e avançou para mais acusações a Seguro: "O PS, nas eleições europeias, ficou muito aquém do que o País necessita. O resultado deixou-o longe de uma maioria absoluta ou de uma posição forte numa coligação".
Seguro respondeu-lhe: "O António Costa julga-se um predestinado. Nós recuperámos 75% nas sondagens e se continuássemos com a mesma cadência estaríamos no limiar da maioria absoluta. O problema foi a crise que tu provocaste".

Nas suas alegações finais, Seguro garantiu: "Os portugueses podem confiar num primeiro-ministro que não diz uma coisa antes das eleições e depois faz outra no governo. Não aumentarei a carga fiscal. Tenho um projecto de mudança de rumo para nosso país, que não pode continuar no rumo do empobrecimento. Só criando riqueza é que conseguimos combater o desemprego, garantir as funções sociais do Estado e reduzir a nossa dívida pública. Há também que mudar a forma de fazer política, não podemos misturar política com negócios. E fazer uma alteração da lei eleitoral que permita aos eleitores escolher o seu deputado porque aumenta a responsabilização e a relação entre o eleito e o eleitor. Apelo aos portugueses que se juntem a nós para concretizarmos este projecto de mudança".
Costa começou as suas alegações, saudando hipocritamente Seguro "por, depois de ter despejado ontem o seu mau ânimo, hoje não ter feito campanha com base nos ataques pessoais". Depois alertou que "não há soluções mágicas". “Temos de ter um programa de recuperação económica que inverta o ciclo da recessão. É um programa de fisioterapia centrado nas empresas, no emprego, na estabilização dos rendimentos: o aumento do salário mínimo e a garantia de que as pensões serão pagas. Para isso, precisamos de um PS mais forte e de uma liderança mais forte. O apelo que faço a todos é que até dia 12 se possam inscrever para participar nestas eleições primárias. Há que saber quem está em melhores condições de, liderando o PS, liderar esta mudança e governar Portugal", concluiu.

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António Costa é um oportunista político que anda a engodar certos lóbis, como os ligados à cultura aos quais já prometeu a criação de um ministério da Cultura, e aos interesses políticos consubstanciados em fundações parasitas, como as da família Soares alimentadas com subsídios da câmara de Lisboa, que esperam a reposição dos subsídios cortados pelo Governo PSD/CDS. Esconde-se atrás de calendários e de chavões como “grandes linhas de orientação programática”, nunca apresentando propostas concretas para promover o crescimento económico do País que é a única via realista para diminuir a dívida pública do País.

Seguro não será um génio mas é bem intencionado e procura apresentar trabalho. Costa passou o debate a esquivar-se às perguntas que lhe foram feitas, a tentar usurpar a autoria de uma proposta de lei eleitoral por que nunca lutou e a desvalorizar o trabalho de Seguro, não recuando em falsear dados. Quando pareceu que abandonava esta táctica e ia adoptar uma atitude conciliatória, zurziu o colega à socapa. Perdeu o debate em todos os campos, sobretudo no do carácter. Representa tudo o que de pior houve na política portuguesa nos últimos 40 anos: o indivíduo que não luta por um sonho mas pelos seus mesquinhos interesses.


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