quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Debate Primárias PS na TVI


António José Seguro e António Costa, os dois candidatos às primárias do PS do próximo dia 28 de Setembro, realizaram esta noite o primeiro dos três debates acordados.


2014-09-09


Seguro começou por lembrar que António Costa foi desleal para com o líder do PS porque teve duas oportunidades para se candidatar à liderança, uma em 2011 e outra em 2013, mas preferiu recuar e assinar um acordo. Agora, na sequência de uma vitória do PS, rasgou esse acordo. "Violou uma regra e uma cultura do PS. Em 40 anos todos os líderes do PS tiveram a oportunidade de disputar as eleições legislativas. Desta vez ela é interrompida depois do PS ter obtido duas vitórias, uma nas eleições autárquicas e outra nas eleições europeias. Isto não se faz. Esta crise que o António Costa provocou ao PS é uma enorme irresponsabilidade e põe o PS, durante este tempo em que devia estar concentrado a fazer oposição ao Governo, a apresentar e a afirmar a sua alternativa, numa crise interna. Considero isto deslealdade e traição. Isto não se faz e é um sinal negativo que se dá aos portugueses, em particular aos que esperam da política, não um jogo de cadeiras e de ambições pessoais, mas que haja uma mudança no sentido dos políticos responderem aos problemas concretos dos portugueses".
Costa procurou explicar a sua atitude como um imperativo de consciência porque o PS não tem subido extraordinariamente nas votações, apesar da austeridade implementada nos últimos três anos pelo Governo PSD/CDS. Seguro respondeu-lhe, recordando a culpa de Sócrates: "Os portugueses vêem o PS como responsável. Não conseguimos mudar o passado".

O Orçamento de Estado de 2012 foi um dos pontos de discórdia no debate. António Costa disse que a abstenção do PS na votação do documento foi um dos piores momentos do partido. António José Seguro acusou Costa de, na altura, ter assumido uma posição diferente sobre esse mesmo assunto.

Questionado sobre um futuro aumento dos impostos, António José Seguro respondeu: "Não aumentarei a carga fiscal, nem surpreenderei os portugueses, como os últimos quatro primeiro-ministros", que justificaram a necessidade de subir os impostos pelas circunstâncias do momento. E fez uma promessa sob palavra de honra: "Assumirei hoje, aqui, que me demitirei se não houver outra alternativa [a aumentar impostos]. Temos de honrar a palavra. Temos de trazer isso para a política".
Já António Costa esquivou-se à pergunta de Judite de Sousa: "Não me sinto obrigado a fazê-lo neste momento", porque esta não é a altura de "apresentar as grandes linhas de programa de Governo, que não será o programa do António Costa ou do António José Seguro". Será, frisou, do PS. "Devemos ser prudentes neste momento. Se nada de anormal acontecer, as eleições serão daqui a um ano. Devemos ainda aguardar com serenidade, porque há muitas variáveis na vida politica e económica nacional e da Europa”. Deu como exemplos, a atitude do novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que disse que é preciso fazer uma "leitura inteligente" do Tratado Orçamental ou as consequências da crise ucraniana.

Só quanto ao IVA da restauração é que ambos estão de acordo. Seguro voltou a prometer que o imposto irá regressar aos 13% quando, e se, for primeiro-ministro.
Costa corroborou: "Há compromissos que o PS assumiu que faço meus, como a redução do IVA da restauração". "Neste momento acho que é imprudente" dizer que é possível baixar os outros impostos. "Todos gostaríamos e eu próprio baixei o IRS e o IMI na cidade de Lisboa. Gostaria de o fazer no país, mas nenhum de nós dois está em condições de prometer", concluiu.

Concordância absoluta entre os dois num tema apenas se verificou relativamente às eleições presidenciais de 2016, com ambos a considerarem António Guterres um bom candidato presidencial socialista. Seguro apresentou três razões: "Querendo, é o socialista que o PS deve apoiar, pela sua enorme sensibilidade social, por ser um homem de diálogo (...) e pelo seu prestígio internacional".
Para Costa "se Guterres estiver disponível, será certamente um excelente Presidente. Eu votarei nele".

Nas declarações finais, Seguro disse que as prioridades do país devem ser o emprego, a sustentabilidade da Segurança Social, uma boa escola pública, um bom serviço nacional de saúde e que é preciso resolver o problema da dívida e ter boas contas públicas: "Como se resolve? Pondo a economia a crescer", só não disse como.
Já António Costa prometeu coesão social, investimento na cultura, educação e ciência e aproveitou para passar a ideia de que aquilo que está em causa "não é uma mera questão interna [do partido] e muito menos uma questão entre pessoas, mas escolha nacional sobre quem está em melhores condições para liderar o PS e para ser uma alternativa do Governo que não se distinga só pelo ritmo e pela dose".

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Foi óbvio que António Costa pretende continuar o tipo de política que se faz em Portugal há 40 anos e que atirou o País para três bancarrotas, fazendo crescer desmesuradamente a dívida.
Seguro evoluiu bastante nos últimos meses, está mais assertivo e consciente de que é preciso começar a falar claro aos eleitores e acabar os compadrios e corrupção com origem no interior dos partidos políticos. Claramente ganhou o debate. Essa era também a opinião dos primeiros seis milhares de portugueses que responderam à sondagem da TVI no final do debate.

Os eleitores já atingiram o ponto de saturação. Alguns começam a optar por atribuir o voto a arrivistas, outros vão votar em utopias que já provaram, noutros países, que não conseguem trazer bem-estar à população e muitos passaram a anular o seu boletim de voto para mostrar o descontentamento. Esta atitude vai ameaçar o próprio regime democrático: o Estado Novo derivou de uma situação similar durante a primeira república e teve, até ao eclodir da guerra colonial nos anos 60, o apoio da maior parte dos portugueses. É tempo de mudar o modo de fazer política no nosso País e as primárias do PS podem ser um bom princípio.


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