segunda-feira, 20 de abril de 2015

O êxodo africano para a Europa - III


Hoje mais um barco com 300 imigrantes clandestinos lançou um pedido de socorro, informou a Organização Internacional das Migrações (OIM).



20/04/2015 - 12:58


"A OIM em Roma acabou de receber uma chamada a pedir ajuda para um barco em águas internacionais (...). A pessoa que ligou disse que havia mais de 300 passageiros no seu barco e que estava em risco de se afundar", disse a organização.
A OIM reencaminhou o pedido de ajuda para as autoridades marítimas mas estas afirmaram que "não têm os meios para os socorrer neste momento", disse o porta-voz desta organização, porque os recursos foram disponiblizados para o naufrágio de domingo de uma embarcação com cerca de 700 pessoas a bordo.
"A guarda costeira vai provavelmente tentar redireccionar navios comerciais", concluiu a OIM, sublinhando que essa solução pode revelar-se ineficaz devido à recusa de alguns desses navios em colaborar.

"Trata-se simplesmente de um pedido de socorro", suavizou pouco depois o porta-voz da OIM, Flavio di Giacomo, nas declarações à televisão RaiNews24, tendo acrescentado: "É muito prematuro falar de naufrágio. Muitas vezes os migrantes, quando ainda estão próximos da Líbia, chamam os guardas costeiros e as associações para lhes pedir ajuda." Embora isso "não queira dizer que não estejam numa situação desesperada".

Este excerto de uma notícia sobre a tragédia que está a ocorrer no mar Mediterrâneo é arrepiante:

As condições das viagens são cada vez piores — muitas vezes, os traficantes de pessoas deixam o barco, em piloto automático, os chamados “navios fantasma”. Os sobreviventes descrevem como nunca sabem para onde vão. Chegam a Malta ou à Grécia pensando que estão em Itália.

Ali, esperam-nos campos de acolhimento ou detenção e poucas perspectivas. Numa tirada especialmente chocante, o presidente da Câmara da ilha grega de Kos, perto da cidade turca de Bodrum, disse na semana passada que não dava nem uma garrafa de água aos refugiados que chegam à ilha, porque estes afastam os turistas.

Nas ilhas gregas, muito mais perto da costa turca do que as ilhas italianas da costa líbia, os refugiados chegam aos grupos de 40, 50 pessoas em barcos que deveriam levar no máximo dez. A escala de morte em cada naufrágio é menor. Mesmo assim, cemitérios em ilhas como Lesbos têm secções com campas de mortos no mar. A maioria está marcada com placas dizendo: “Afegão 1, Afegão 2” ou simplesmente “X, imigrante”, e a data em que foram encontrados. Ao fim de três anos, as campas são removidas.

Na travessia para Itália, são mais comuns navios maiores, mais velhos, que levam mais pessoas e muitas vezes param no meio do mar, e se viram com o peso da deslocação das pessoas para um lado quando é avistado um navio que poderá ajudar. Vários naufrágios aconteceram assim.


Enquanto surgiam as notícias de que novos barcos com imigrantes clandestinos tentam chegar à Europa, decorreu a cimeira europeia convocada de emergência para abordar o assunto.

Há duas posições antagónicas no seio da UE. Os países mais afectados pelo fluxo migratório do Magrebe e da África subsaariana, como a Itália, França, Espanha ou Malta, defendem uma solução colectiva para combater o problema. Outros Estados europeus, com o Reino Unido à cabeça, defendem a redução do financiamento das operações de resgate porque encorajam a imigração clandestina.

Reunidos de emergência no Luxemburgo, os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Interior da União Europeia adoptaram algumas medidas extraordinárias. Segundo o ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maiziere, a Comissão aprovou:
  • Duplicar o financiamento e os meios dos programas de segurança e patrulhamento marítimo Triton e Poseidon e alargar a sua área de intervenção. Mas mesmo depois deste reforço, as duas missões terão menos recursos do que o anterior programa de vigilância Mare Nostrum que o Governo italiano custeava e que abandonou no ano passado.
  • Medidas para a penalização das redes criminosas que lucram com o transporte de imigrantes para a Europa, usando a experiência obtida na operação anti-pirataria Atalanta, em curso na costa da Somália, para lograr a “captura e destruição” das embarcações usadas no tráfico do Mediterrâneo.
  • Dar prioridade à investigação (policial e judicial) das redes contrabandistas.
  • Dar novos poderes à Frontex, a agência europeia de controlo das fronteiras europeias, no que diz respeito ao alojamento ou expatriamento de imigrantes clandestinos e refugiados. A agência poderá proceder ao repatriamento de imigrantes ou candidatos a asilo cujo processo seja “irregular”.
  • Adoptar um “mecanismo de realojamento de emergência” dos imigrantes que chegam à costa e criar um programa-piloto voluntário para a redistribuição de refugiados pelos países da UE.


*


Sob a capa do anonimato pode falar-se de realidades que o cultivo de relacionamentos equilibrados e as normas de boa educação — que nos coíbem de ofender os nossos interlocutores — nos impedem de dizer cara a cara.
Não é, porém, não falando destas realidades, que elas desaparecem da face da Terra, como muitos de nós gostaríamos que acontecesse. O que se segue são diálogos impiedosos que é preciso ler:

No Mercy
20/04/2015 14:44
O problema não está nas vagas de emigrantes, está nas razões que levam às vagas de emigrantes e essas estão nos países de origem, países soberanos, com uma respeitável autodeterminação e onde a Europa não pode intervir para resolver os problemas de pobreza, da miséria, da intolerância religiosa, das guerras, do tribalismo, da ignorância, da violência endémica e sistemática, etc e tal, de que esses países continuam (e continuarão) a padecer!
Enquanto não se perceber que isso da autodeterminação é conversa do séc. XX e que, manifestamente, ela não acrescentou nada a inúmeros povos, bem pelo contrário, não se resolve o problema de África! As simple as that!
  • Álvaro Aragão Athayde
    Engenheiro (aposentado), Coimbra 20/04/2015 15:05
    Não pode intervir? Então o que aconteceu no Iraque, na Líbia, na Síria, etc., foi o quê? Hipocrisia, é?
  • Gota
    Um dia despertarão. Esperemos que não seja da pior maneira possível... 20/04/2015 15:34
    Boa, caro Álvaro!
  • No Mercy
    20/04/2015 15:43
    Caro Álvaro,
    A frase é "a Europa não pode intervir para resolver os problemas de pobreza, da miséria, da intolerância religiosa, das guerras, do tribalismo, da ignorância, da violência endémica e sistemática, etc e tal, de que esses países continuam (e continuarão) a padecer!".
    Uma coisa é mandar uns aviões atacar uns alvos, outra bem diferente é "os problemas de pobreza, da miséria, da intolerância religiosa, das guerras, do tribalismo, da ignorância, da violência endémica e sistemática", não acha? E acha que as intervenções no Iraque, na Líbia, na Síria resolveram algum problema ou, sequer, resolveram o problema do terrorismo? Eu espero que o Ocidente tenha aprendido que não é possível resolver os problemas desses países, como está mais do que provado. A não ser recolonizando-os...

Luis Simões

20/04/2015 15:38
"Se países como a Itália, França, Espanha ou Malta — mais afectados pelo fluxo migratório do Magrebe e da África Subsariana — defendem soluções abrangentes para combater o problema, outros estados europeus, com o Reino Unido à cabeça, promovem a redução do financiamento das operações de resgate, que consideram encorajadoras da imigração clandestina." Têm todo o dinheiro do mundo para atiçar guerras e bombardeamentos mas contam tostões para resgatar as vítimas inocentes...
  • No Mercy
    20/04/2015 15:50
    O problema é que se puseres um Muro no meio do Mediterrâneo, podes conseguir que eles não entrem, mas não resolves os problemas que os fazem fugir dos países deles... A Europa e o ocidente vão ter que resolver a crescente disparidade de valores (e de tudo o mais) entre os países desenvolvidos e os países eternamente atrasados que rodeiam os países desenvolvidos — e que nunca serão outra coisa senão países atrasados.
    O séc. XX foi o séc. das independências, com a ausência de resultados para as populações que está à vista. O séc. XXI vai ter que encontrar solução para as independências que o séc. XX concedeu. As simple as that!
  • Luis Simões
    20/04/2015 16:01
    "A Europa e o ocidente vão ter que resolver a crescente disparidade de valores"? Que fiquem quietinhos e que deixem de interferir nos negócios internos alheios e principalmente que deixem de agredir e de bombardear países soberanos!
  • No Mercy
    20/04/2015 16:35
    Até aí concordo. É o que eu acho, cada um que se governe! Agora, não estejam à espera que os problemas nos outros países se vão resolver, porque não vão...
  • Luis Simões
    20/04/2015 16:46
    "não estejam é à espera que os problemas nos outros países se vão resolver, porque não vão..." Que não criem problemas seja a quem for, é o que eu espero!

Mortiço
20/04/2015 16:21
Independentemente de qualquer conotação partidária, esta sucessão de tragédias são mais um sintoma da falência moral da civilização europeia. Claro que não vão ficar na história, porque como se diz "dos fracos não reza a história". Mas é de ter vergonha da geração que está no poder neste que já foi o continente dos direitos humanos (uma rotunda hipocrisia, certamente). Ouvindo hoje a entrevista do Durão Barroso me dei conta que ele usava exatamente a mesma argumentação da minha porteira, que não tem fama de ser das pessoas mais inteligentes. Pura demagogia, pura subserviência, fracasso moral total.
  • Luis Simões
    20/04/2015 16:47
    "esta sucessão de tragédias são mais um sintoma da falência moral da civilização europeia". E norte-americana, canadiana e australiana, enfim da NATO!
  • No Mercy
    20/04/2015 16:48
    "esta sucessão de tragédias são mais um sintoma da falência moral da civilização europeia"?
    ahahahahahahahahahhaahahahahahahahahahahhahahahhhah
    Oh migo, desça à Terra por uns instantes. Os náufragos não estão a fugir da Europa, estão a querer vir desesperadamente para a Europa — o tal sítio que o cavalheiro diz estar falido moralmente! Se a Europa, para onde estes desgraçados querem fugir, está falida em termos morais e civilizacionais, os países de origem destes fulanos estão o quê? Num zénite moral e civilizacional?
    ahahahahahahahahaahahahhahhahahhhhahhahahha
    Vocês são uns pândegos divertidos, taditos...
  • Mortiço
    20/04/2015 17:23
    No Mercy, o seu comentário ilustra exactamente o que eu escrevi. A Europa pode ser rica, mas é miserável de cultura, de política e moral. Gargalhadas é tudo o que lhe inspira a morte de centenas de seres humanos, precisamente daqueles que mais esperança depositavam na Europa?
  • No Mercy
    20/04/2015 18:12
    O cavalheiro pode tresler o que eu disse à medida da sua conveniência, mas o grotesco do seu comentário está ali, para quem quiser ver! E continua com "A Europa pode ser rica, mas é miserável de cultura, de política e moral" — que me sugere a seguinte pergunta: se é assim, porque é que aqueles desgraçados querem vir para cá e estão a fugir das terras deles?
    Mais, se a "Europa pode ser rica, mas é miserável de cultura, de política e moral", os paisecos de onde estes desgraçados fogem são o quê, referências da cultura, da política e da moral?
    ahahahahaahahahahahahhahhahaahahahahhhah
    E não, eu não me estou a rir daqueles desgraçados, cujas terras de muitos deles conheço, estou-me a rir de si e das suas teorias de quem vê o mundo a partir do sofá e pensa que sabe alguma coisa!

RA
20/04/2015 16:50
O problema não está na Europa, está no Norte de África. E o problema não é só da Europa, é de quem mais derrubou regimes no Norte de África e não ficou para arrumar a casa. A partir do momento que se meteram na Líbia, os EUA têm responsabilidade no assunto e a Europa é quem os tem de chamar a ajudar no assunto.
O problema também não é só dos países para onde os emigrantes vão. Os países onde, ao contrário da Líbia, não reina a desordem, têm de ser chamados a controlar as suas fronteiras! Marrocos, Egipto, Tunísia, ... , têm de ser responsabilizados e chamados a ajudar no problema e, em último caso, têm de ser sancionados pela apatia perante este gravíssimo problema.
Mais, o Reino Unido — país de política hipócrita com provas dadas em assuntos como a escravatura e a descolonização — que em nada ajuda nisto, também andou a largar bombas na Líbia. Não que discorde com a actuação na Líbia de Kadhafi, mas que fiquem a arrumar os restos. Largar só as bombas que estão quase fora de prazo, e depois ir embora, não chega. E os EUA (que nunca são esquecidos pelos antecedentes e procedentes) não são filhos únicos nesta saga; o Canadá também lá andou metido, não esquecer desses.


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