quinta-feira, 4 de junho de 2015

A Grécia à beira da bancarrota - II


O FMI anunciou o pedido do governo de Alexis Tsipras em comunicado enviado por e-mail pelo seu porta-voz Gerry Rice:
As autoridades gregas informaram hoje o Fundo que tencionam juntar os quatro pagamentos devidos em Junho num só, que terá agora de ser realizado em 30 de Junho.

No âmbito de uma decisão do Conselho Executivo adoptada em finais da década de 1970, os países membros podem pedir para agrupar vários pagamentos de empréstimos com vencimento num mês do calendário [os pagamentos de juros não podem ser incluídos nesse pacote]. A decisão destinava-se a atender às dificuldades administrativas de fazer vários pagamentos num curto período.

William Murray, porta-voz adjunto do Departamento de Comunicação do FMI, já havia informado que os países têm a opção de agrupar vários pagamentos, num determinado mês, em um único pagamento no final do mês, na conferência de imprensa do passado dia 28 de Maio:

May 28, 2015


"Pergunta: A Grécia solicitou o agrupamento dos quatro próximos pagamentos em um? Qual é a posição do FMI sobre isso? Quem toma essa decisão, o Director-Geral ou o conselho, e isso é algo comum? Já aconteceu antes?

SR. MURRAY: Obrigado por essas questões. A resposta curta é não, não houve pedido para este agrupamento que tem obtido a atenção dos media, penso que, na semana passada. Não é específica para a Grécia, porque não houve nenhum pedido para o agrupamento, mas um país, apenas como cenário para sua orientação, os países possuem as opções de agrupamento, quando têm uma série de pagamentos num determinado mês. Têm a opção de agrupar, fazer um único pagamento no final do mesmo mês. Esta é uma política que foi adoptada na década de 1970. É usada raramente. Só estou ciente de um caso e passou-se em meados dos anos 80 em que um país agrupou pagamentos ao Fundo.

Pergunta: Sabe qual o país?

SR. MURRAY: Sim. Foi a Zâmbia.

Pergunta: E quem toma tal decisão?

SR. MURRAY: É um pedido das autoridades. É uma notificação por parte das autoridades de que vão agrupar. Esta política foi adoptada pelo Conselho Executivo, por isso, se um país diz, como sabe temos quatro pagamentos devidos no mês de Junho, vamos fazer um pagamento em 30 de Junho, um pagamento único em 30 de Junho. Têm todo o direito de fazê-lo, se quiserem.

Pergunta: As autoridades gregas têm ameaçado não pagar ao FMI os próximos três pagamentos. Está confiante de que eles vão reembolsar o FMI, e o que pode acontecer se não o fizerem? A Grécia pode ser eventualmente excluída do FMI, é algo que pertence à gama de opções?

SR. MURRAY: Obrigado. Dizer que já ameaçaram, essa caracterização não é o caso. No nosso entendimento, e o Sr. Varoufakis e outros declararam isto, é que pretendem pagar ao Fundo. Então, enquanto estivermos exactamente nesta situação, esperamos que as autoridades gregas vão pagar-nos.

Pergunta: E o que pode acontecer se não o fizerem?

SR. MURRAY: Para qualquer país que não cumpra os seus compromissos com o Fundo há um processo, um processo muito longo no tempo mas, inicialmente, o processo é que são declarados em mora e não têm acesso a financiamento do FMI.

Pergunta: Então, poderia descrever-nos essa mecânica? O primeiro pagamento, exactamente quando é devido, em que data e que horas? E quão rapidamente o FMI vai enviar, como sabe, um telegrama para a Grécia dizendo que falharam esse pagamento?

SR. MURRAY: Não tenho essa granulosidade em termos do que fazer, enviamos um telegrama ou qualquer coisa assim. Quer dizer, penso que a política em 1970 pelo agrupamento foi um resultado — Telex foi amplamente usado nos anos 70, mas não tenho a certeza sobre telegramas agora. É basicamente no fecho das operações na data do pagamento que é devido que um país seria declarado em atraso.

Pergunta: Fecho das operações na Grécia ou aqui?

SR. MURRAY: Aqui. Sim, seria, como sabe, meia-noite. Não é tão forte e rápido, mas é — nós damos-lhes um dia, como sabe, o dia em que é devido.

Pergunta: Quero dizer, o senhor apenas disse que eles não poderiam ter acesso ao financiamento do FMI, se falharem um pagamento. Isto é --

SR. MURRAY: Se um país, não estou a ser profético em qualquer extensão ou em qualquer país agora, mas se um país não cumprir os seus compromissos financeiros com o Fundo, que é um reembolso do que é devido, é declarado em mora e sob a nossa política já não tem acesso até que pague a mora. Não tem mais acesso a novo financiamento.

Agora o senhor tem de lembrar-se que o Fundo é um fundo de 188 países. É a nossa responsabilidade fiduciária. Somos os guardiões dos recursos de 188 países que reciclamos, que emprestamos a outros países. É por isso que é importante que os países reembolsem o Fundo, porque estão a receber empréstimos de 187 outros países. Vou seguir em frente a partir daqui. Não tenho muito mais a dizer, mas deixe-me ir para outra pessoa e, em seguida, vamos seguir em frente.

Pergunta: A última vez que perguntámos a Gerry [Rice, Director de Comunicação] sobre isto, ele disse que o FMI não tinha uma boa noção de quanto dinheiro a Grécia tem, porque não tinham tido discussões técnicas. Agora que as discussões técnicas estão a decorrer há algum tempo, estava a pensar se podia fornecer uma avaliação mais detalhada sobre a situação? Sei que é difícil por causa do local — algumas cidades locais têm dinheiro.

SR. MURRAY: Quer que lhe dê um valor de quanto dinheiro a Grécia tem?

Pergunta: Bem, qual é a avaliação do FMI?

SR. MURRAY: Sim, não tenho --"





*

Este é o segundo passo de gigante da Grécia no caminho que vai conduzir o país à bancarrota.

Recordemos que o primeiro passo foi dado em 12 de Maio passado quando a Grécia esvaziou a conta de reserva que os países-membros têm junto do FMI para pagar o reembolso de 750 milhões de euros devidos... ao próprio FMI.

A derradeira etapa estará percorrida dentro de pouco tempo, precisamente à meia-noite do dia 30 do corrente mês de Junho.
Os pormenores são claramente explicados na conferência de imprensa acima referida e os restantes países-membros do FMI vão suportar o calote do governo de Tsipras.

Por coincidência, o prazo para pagar os 1,5 mil milhões ao FMI coincide com o prazo de validade do actual programa de assistência da troika.

Resta fazer uma pequena, mas importante correcção: nem todos os restantes 187 países-membros do FMI vão aguentar com o calote grego, porque só alguns aceitaram encher os cofres do FMI para ajudar os países europeus que revelaram dificuldades financeiras.
Em especial, dois importantes países-membros do FMI recusaram emprestar sequer um dólar com o argumento de que, sendo a zona Euro a região mais rica do mundo, os seus países-membros não merecem ajuda.

A opinião dos outros:

Anónimo
04 Junho 2015 - 21:17
O circo do governo grego lá continua com o seu número e por cá há muita gente que comprou bilhete para ver o circo!
Enquanto não pagarem ao FMI ou outro credor qualquer vão bater palmas, quando não pagarem salários e reformas vão bater em alguém. No entanto, será mais certo a ditadura.

Anónimo
04 Junho 2015 - 22:10
"A vitória do Syriza marca o início de um novo ciclo na Europa"
António Costa - Janeiro de 2015

Criador de Touros
05 Junho 2015 - 13:39
Sou a favor de encarar os problemas de frente: antes prefiro a Grécia fora do sistema do que dentro. Com pessoas que não são sérias não se pode fazer negócios.

05 Junho 2015 - 14:03
As pessoas já sabem o que eu penso da política portuguesa: a esquerda é um inferno, a direita vale pouco. Os portugueses terão de evoluir muito, mas irá demorar bastante tempo.

05 Junho 2015 - 17:21
Esta possibilidade de os gregos ganharem tempo já tinha sido prevista por muitos, para mim, a Grécia entra em default hoje e, torno a dizer, não estou a ver como haverá acordo até ao fim de Junho. A UE tem medo, não há Homens a mandar.


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