sexta-feira, 4 de março de 2011

Oposição anula reorganização curricular no ensino básico


A apreciação parlamentar do PCP, que pedia a cessação da vigência do decreto da reorganização curricular do ensino básico, foi hoje aprovada com os votos do PCP, PEV, BE, PSD e com a abstenção do CDS.
O decreto do governo socialista de José Sócrates determinava a extinção da Área de projecto, a limitação do Estudo acompanhado a alunos com dificuldades e o fim do par pedagógico (dois professores na sala de aula) em Educação Visual e Tecnológica (2º ciclo), no próximo ano lectivo.


Tudo começou com o Decreto-Lei 6/2001 do governo socialista de Guterres.
No 2º ciclo, os alunos passaram a receber formação em Matemática e Ciências durante 21% da carga lectiva e desperdiçam 17% com áreas não disciplinares — em que estão dois docentes na sala de aula o que, em geral, significa ausência de direcção do trabalho —, como se pode ver nesta tabela:

2º ciclo

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_________________
Áreas curriculares
disciplinares








_________________
Áreas curriculares
não disciplinares

_________________

_________________


______________________


______________________
Línguas e Estudos Sociais


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Matemática e Ciências

______________________
Educação Artística
e Tecnológica
Educação Física
______________________



______________________

______________________


____________________________

Componentes do currículo
____________________________
Língua Portuguesa
Língua Estrangeira
História e Geografia de Portugal
____________________________
Matemática
Ciências da Natureza
____________________________
Educação Visual e Tecnológica
Educação Musical
Educação Física
____________________________
Área de projecto
Estudo acompanhado
Formação cívica
____________________________
A decidir pela escola
____________________________


______________
carga semanal
(blocos 90 min)
______________
10,5


______________
7

______________
6

3
______________
5,5


______________
1
______________
33

______

%
______
32%


______
21%

______
27%


______
17%


______
3%
______
100%


No 3º ciclo piora: o tempo de formação em Matemática e Ciências sobe para 26% mas a distribuir também por Físico-Química e por TIC, disciplina introduzida pelo governo Durão Barroso na primeira alteração ao decreto.

3º ciclo

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_________________
Áreas curriculares
disciplinares












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Áreas curriculares
não disciplinares

_________________

_________________


_______________________


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Línguas

Ciências Humanas e Sociais

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Matemática
Ciências Físicas e Naturais

Informática

_______________________
Educação Artística
Educação Tecnológica
Educação Física
_______________________



_______________________

_______________________


____________________________

Componentes do currículo
____________________________
Língua Portuguesa
Línguas Estrangeiras
História
Geografia
____________________________
Matemática
Ciências Naturais
Físico-Química
Introdução às Tecnologias
de Informação e Comunicação
____________________________
Educação Visual
Educação Tecnológica
Educação Física
____________________________
Área de projecto
Estudo acompanhado
Formação cívica
____________________________
A decidir pela escola
____________________________


______________
carga semanal
(blocos 90 min)
______________
6
8
7

______________
6
6,5

1

______________
5,5

4,5
______________
7


______________
1
______________
52,5

_____

%
_____
40%



_____
26%




_____
19%


_____
13%


_____
2%
_____
100%


É com currículos deste teor que um País vai formar recursos humanos qualificados em áreas cientificas e técnicas que saibam produzir bens transaccionáveis?
Até a equipa de Isabel Alçada percebeu que as áreas não disciplinares se deviam eliminar e procurou fazê-lo através do Decreto-Lei 18/2011 que hoje foi reprovado no parlamento.


Vimos o alívio estampado nos rostos dos nossos colegas mais novos e compreendemos a sua angústia: no próximo ano lectivo este decreto ia lançar no desemprego uma ou duas dezenas de milhar de docentes contratados. Mas actualmente os docentes já beneficiam de subsídio de desemprego e, no ano lectivo 2012-13, com o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, muitos voltariam a ser contratados.
O País é que não pode estar a desperdiçar recursos humanos em áreas onde os alunos andam a perder tempo. É mesmo preciso repensar a organização curricular do ensino básico.
E não podemos esquecer, também, que a maioria dos novos docentes optaram pela via mais fácil: uma licenciatura em Ensino numa universidade privada que dá menos trabalho e, no fim, permite obter uma melhor classificação do que aqueles que trabalharam a sério para se licenciarem numa universidade pública.


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