sábado, 18 de abril de 2015

Nasceu uma nova associação de professores de Português


Foi criada uma nova associação de professores de Português que preconiza o fim da confusão actual na ortografia da língua portuguesa que adveio do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) e pretende alargar os conhecimentos literários dos alunos.
A defesa da possibilidade de os estudantes utilizarem ambas as grafias nas provas nacionais, este ano, é a sua primeira iniciativa.




Fernando Nabais, presidente de nova associação de professores de Português


A Associação Nacional de Professores de Português (Anproport) fez, este sábado, a sua apresentação pública na Biblioteca da Escola Secundária Pedro Nunes, em Lisboa, e já apresentou a primeira iniciativa: reclamar junto do Ministério da Educação e Ciência (MEC) que seja permitido o uso da grafia de 1945 aos estudantes que este ano fazem exames nacionais de Português.

O presidente, Fernando Nabais, argumenta que o calendário de aplicação do AO90 à avaliação externa foi estabelecido “na expectativa de que a nova grafia estaria, nesta altura, consolidada, o que está muito longe de se verificar”.
A Anproport não foi criada contra o AO90 nem se afirma contra ele. Mas defende que o acordo deve ser debatido e avaliado e que, se se concluir que é prejudicial, deverá ser revogado”, esclareceu Fernando Nabais. Sublinhava, assim, um dos pontos de divergência entre a Anproport e a velha Associação de Professores de Português (APP), criada em 1977, cuja presidente, Edviges Ferreira, afirmou, recentemente, que “se o MEC determina que o AO90 é para cumprir, [os professores] só têm de obedecer”.

A perspectiva da nova associação, explica Fernando Nabais, é que “nada passa a ser positivo pelo único facto de estar legislado”. No que respeita à ortografia, “o que actualmente se verifica é o caos, que resulta da utilização simultânea de ambas as grafias e do que não é uma coisa nem outra” e “Não é invulgar depararmos com palavras que não existem na publicidade, nas legendas da televisão e até em documentos oficiais”, observa.
Ora esta situação é especialmente grave em relação aos alunos do 12.º ano porque podem perder até 4 valores (em 20) devido a erros ortográficos, justamente aqueles para quem uma centésima a menos ou a mais pode determinar a entrada, ou não, num curso do ensino superior público.

Outro dos motivos para que parte dos docentes de Português não se reveja na associação profissional de 1977, é a oposição desta “ao regresso dos clássicos e à revalorização da história da literatura e da própria literatura” no novo programa do ensino secundário, que será aplicado pela primeira vez no ano lectivo 2015-2016.
Ouvimos a presidente da APP defender que do programa deviam constar autores mais recentes e mais próximos da realidade dos alunos, que de contrário passarão a detestar a disciplina. Já nós consideramos inaceitável que um aluno possa fazer 12 anos de escolaridade sem saber que D. Dinis ou Fernão Lopes escreveram uma linha. Quando se toma este tipo de decisões, o critério não pode ser se os alunos se identificam ou não imediatamente com as obras”, disse Fernando Nabais, mas “o rigor e a exigência”.

A presidente da APP, Edviges Ferreira, recordou o parecer da associação feito na altura da apresentação do programa do ensino secundário. Nessa ocasião, criticou o elevado número de obras literárias incluído no programa, o facto de aquele ser excessivamente extenso e prescritivo (com a indicação de capítulos específicos de cada obra e até de excertos e de poemas) que considera desadequado, por exemplo, ao 10.º de escolaridade, “um ano crítico, marcado por altos níveis de insucesso, por corresponder a uma fase de transição e por as turmas serem muito heterogéneas”.
Na medida em que tem nos seus órgãos sociais os autores das metas e dos novos programas de Português, é muito natural que as pessoas que integram a nova associação não se revejam nas posições da APP, que os tem contestado publicamente. Mas isso não tem mal nenhum, tornará o debate mais interessante, pelo que fazemos questão de estar presentes e de desejar as maiores felicidades aos nossos colegas”, acrescenta.
Sobre o AO90, Edviges Ferreira diz que “a APP nunca tomou uma posição favorável ou desfavorável” porque “existindo professores de Português que concordam com a aplicação do AO90 e outros que discordam”, “a única posição possível da associação é colocar isso em segundo plano e proteger alunos, cumprindo a lei e os despachos que determinam que este ano o AO90 é aplicado na avaliação externa”.

O presidente da nova associação confirmou que Helena Buescu, presidente da comissão científica responsável pelas metas curriculares e pelo programa de Português do ensino secundário, é presidente da mesa da assembleia geral da nova Anproport. E esclarece: “Não excluímos pessoas por serem autoras de programas ou de manuais ou por serem de esquerda ou de direita. As pessoas juntam-se por terem visões comuns.

Durante a próxima semana a Anproport divulgará o seu sítio na internet e a forma como os professores se podem tornar associados. O objectivo é reunir docentes de todos os níveis de ensino, do pré-escolar ao superior.


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Definidas as fronteiras em 1297, Dinis de Portugal concebeu um novo projecto para o País — a criação da identidade nacional — que pôs em prática ao instituir a língua Portuguesa como língua oficial da corte e criar a primeira Universidade portuguesa.
Dom Dinis não só apreciava a literatura, como foi ele próprio um poeta, facto reconhecido no seu cognome de Rei-Poeta. Pelos vistos a presidente da APP não se importa de fazer tábua rasa de mais de oitocentos anos de cultura portuguesa e quer reduzir os conhecimentos literários dos alunos aos escritores contemporâneos.

Quanto à sua afirmação de que “a única posição possível da associação é colocar isso [a discussão sobre o AO90] em segundo plano e proteger alunos, cumprindo a lei e os despachos que determinam que este ano o AO90 é aplicado na avaliação externa”, faz-me recordar a argumentação do partido comunista aos seus militantes ao exigir-lhes para se absterem de pensar e limitarem-se a cumprir as directrizes do comité central que existe para pensar por eles. Pelos vistos o horror à liberdade de pensamento não é domínio exclusivo deste partido.

Sobre a questão da heterogeneidade das turmas, o ministro Nuno Crato tem repetido sucessivas vezes que é favorável a turmas mais homogéneas porque facilita o trabalho dos docentes e favorece a aprendizagem dos alunos. Se as turmas são heterogéneas é porque os professores assim decidem por razões ideológicas — o socialismo exige que se misture os alunos para torná-los iguais, mas o que se consegue é nivelar todos pela mediocridade. No entanto, o facciosismo ideológico cega muitos docentes.

O objectivo de reunir docentes de todos os níveis de ensino, do pré-escolar ao Superior, só pode merecer a minha concordância. Actualmente observa-se uma partição do ensino em básico e secundário, por um lado, e superior, por outro, com os docentes de costas viradas entre si e muitas vezes hostilizando-se — é habitual os docentes do ensino não superior depreciarem os conhecimentos pedagógicos dos seus colegas do superior, e estes, a fragilidade dos conhecimentos científicos dos primeiros.
A criação de pontes entre todos os professores só beneficiará todos pois contribuirá para aumentar o rigor e a exigência no ensino não superior e enriquecer pedagogicamente a prática lectiva dos docentes do superior.

Nasceu uma nova associação de professores de português. Nos bancos da escola está agora a geração que um dia irá substituir a minha. Renasce a esperança de que a cultura portuguesa não afundará no esquecimento, vai criar raízes nessa nova geração e florescer em novos cultores à altura de um Fernão Lopes, um Gil Vicente, um Camões, um Padre António Vieira, um Garrett ou um Eça.


Outras opiniões:

Jalopes
17/04/2015 21:29
A escrita implica regras para fixar a língua. Mas a língua é sobretudo o que se fala e como se fala. Desde o séc. XII tem havido mudanças ortográficas na língua portuguesa. A partir de 1904, por exemplo, deixou de escrever-se "pharmacia". Fernando Pessoa nunca aderiu ao acordo ortográfico do seu tempo e escreveu sempre como havia aprendido na escola. E veio daí algum mal ao mundo? Há sempre gente imobilista e pouco atreita a mudanças. Há que respeitar a sua opinião... e a dos outros!
  • MC
    Lisboa 17/04/2015 22:07
    "A partir de 1904, por exemplo, deixou de escrever-se pharmacia" — essa informação não tem pés nem cabeça e é errada. Erro que vai a par com o considerar que Fernando Pessoa é "gente imobilista e pouco atreita a mudanças". Enfim, de tolices está o mundo cheio. Fica a notícia da constituição da nova associação que pretende proteger professores e alunos e bater-se pelo ensino da Literatura e Cultura portuguesas na disciplina de língua portuguesa.
  • José Papalvo
    18/04/2015 00:27
    O Novo Diccionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo de 1913 tem grafia dupla para “farmácia” e “pharmacia” provenientes do grego “pharmakeia”. Também apresenta grafia dupla para centenas de termos provenientes do grego onde a letra f não existia e o som da mesma era representado por ph. Como por exemplo “fotografia” e “photographia”. Mas isto será uma evolução.
    Substituir o AO45 assinado pelos dois países pelo Vocabulário Ortográfico de 1943 (agora AO90), criado unilateralmente no Brasil para resolver o grave problema do analfabetismo, é uma involução.
  • MC
    Lisboa 18/04/2015 04:15
    Substituir ph por f não é evolução nenhuma, caro José Papalvo. É uma escolha, que hoje se verifica não ter qualquer sentido ou utilidade. Na altura ainda poderia ter algum cabimento pensar numa "ortografia fonética". Mas "pharmacia" e "farmácia" não se pronunciam exactamente do mesmo modo — como referia Victor Guerreiro a propósito de "filosofia" —, não se podendo falar, sequer, de "aproximação à oralidade"? E hoje, à luz das descobertas das ciências neurocognitivas, sabe-se que é totalmente indiferente para a aprendizagem.
    A etimologia tem a vantagem de permitir o mais fácil reconhecimento das palavras da mesma família: é mais fácil perceber que "estupefacto" e "estupefacção" estão proximamente relacionadas do que "estupefacto" e "estupefação". São uns bits de informação que ajudam na leitura.
  • MC
    Lisboa 18/04/2015 04:17
    O estado português nunca legislou sobre ortografia até 1911, por isso é um erro fáctico a afirmação de que houve mudanças em 1904. A única curiosidade é que tal data é referida em propaganda brasileira do acordo.

José Papalvo
17/04/2015 23:38
O Acordo Ortográfico de 1945 foi assinado em Lisboa a 10 de Agosto de 1945, por uma Comissão composta de membros da Academia das Ciências de Lisboa e Academia Brasileira de Letras. Esse Acordo, por motivos que devem ser investigados, não substituiu, no Brasil, o Formulário Ortográfico de 1943 oportunamente criado pelos editores brasileiros que pressionaram o Congresso Nacional Brasileiro para não aceitar o AO45, considerado, pasme-se, demasiado lusitano.
Da terra dos “mensalões” e “lava-jatos” saíram depois embaixadas para a terra dos BPN, BES, etc, para substituir o AO45 pelo AO43 em Portugal e nos outros seis países lusófonos. Essa fraude monumental chama-se AO90. Até hoje ainda ninguém percebeu porque têm de ser os outros sete países a escrever brasileiro e não o Brasil a escrever português.

Aliás não existe nenhum AO43 discutido pelos países lusófonos (na altura só Portugal e Brasil eram independentes). O que existe sim é o Formulário Ortográfico de 1943, ou Vocabulário Ortográfico de 1943, criado pelos editores brasileiros atendendo à mistura dos vários idiomas de imigrantes brasileiros, nomeadamente os italianos. É este FO43, ou VO43, que nos é imposto em 1990 sem qualquer discussão e ao arrepio da opinião dos linguistas portugueses e... brasileiros. Obviamente os que estavam nas negociatas das editoras, lá e cá, consideram a grande fraude AO90 como a obra prima da coprocultura.

Hendrik
18/04/2015 16:30
Tem todo o meu apoio. Malaca Casteleiro, um obscuro e malvisto professor da Faculdade de Letras de Lisboa, não pode impor uma revisão incoerente do ponto de vista ortográfico e que não resolve nada em termos de acordo, antes complica a inteligência das palavras e nos afasta da etimologia.


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